O etanol, álcool etílico ou simplesmente álcool é uma substância considerada psicoativa (ver Substâncias Psicoativas), ou seja, que produz alterações nas funções cerebrais. Pertence à classe das drogas depressoras do sistema nervoso, isto é, substâncias que “lentificam” e reduzem a atividade cerebral. Apesar de lícito, causa prejuízos significativos tanto para pessoas dependentes (etilistas/alcoolistas/alcoólatras) quanto para não dependentes que ingiram grandes quantidades.
Bebidas fermentadas X Bebidas destiladas
As bebidas alcoólicas fermentadas são produzidas e ingeridas pela humanidade desde os povos antigos. A fermentação alcoólica nada mais é do que a produção de álcool a partir de açúcares pela ação de microorganismos (fungos). É um processo natural e o resultado é uma bebida com relativamente pouco álcool em sua composição. São bebidas fermentadas: cerveja (3-7% de álcool), vinho (12-15% de álcool).
Já a destilação é um processo por meio do qual se consegue produzir bebidas com teor alcoólico mais elevado. São bebidas destiladas: uísque, tequila, cachaça, vodca, conhaque, todas com 40 a 60% de álcool em sua composição.
Efeitos do álcool no organismo
Para saber os efeitos da ingestão crônica e dependência de álcool (etilismo ou alcoolismo), leia o texto: Por que a venda de bebidas alcoólicas é proibida para menores de 18 anos?. Para saber sobre os efeitos da ingestão aguda do álcool no organismo, continue a seguir:
Intoxicação aguda pelo álcool
Intoxicação aguda é o nome que se dá quando o indivíduo ingere grandes quantidades de bebida alcoólica em um curto espaço de tempo, em outras palavras, é o ato de embriagar-se. A intoxicação aguda, portanto, não é exclusiva dos alcoólatras, mas sim ocorre com todas as pessoas que bebem em demasia durante uma festa ou um churrasco, por exemplo.
Nos primeiros minutos após a ingestão alcoólica, os efeitos são considerados bons: sensação de prazer, euforia (humor elevado), desinibição, relaxamento. Porém, com o passar do tempo, surgem os sinais de depressão do sistema nervoso, o indivíduo fica com a fala arrastada, raciocínio lentificado, falta de coordenação motora, visão dupla, tontura, náuseas, vômitos, comportamento inadequado, confusão e desorientação mentais, declínio do juízo crítico, podendo chegar a perda da consciência, coma e morte.
Ainda no cérebro, o álcool inibe a liberação de um hormônio chamado ADH. Isso faz que o indivíduo urine em grandes quantidades e fique desidratado. Já reparou que quando você “exagera na bebida” você vai ao banheiro várias vezes? Pois é…mais uma vez, é o álcool agindo no seu sistema nervoso.
Além de todos os efeitos já citados, o álcool “atrapalha” o metabolismo do açúcar no fígado, o que pode levar a hipoglicemia (pouco açúcar no sangue), coma e morte.
Relembrando: os efeitos supracitados não são exclusivos de indivíduos ditos alcoólatras, mas sim ocorrem com todos que ingiram álcool em quantidades maiores do que o organismo consegue metabolizar.
Por que algumas pessoas ficam alcoolizadas mais rapidamente do que outras?
A intensidade dos sintomas da intoxicação alcoólica aguda depende de vários fatores, por exemplo, quanto maior a quantidade de álcool ingerida, maiores os efeitos no organismo. Lembre-se de que as bebidas destiladas têm mais álcool do que as fermentadas, logo, a ingestão de um copo de tequila ou uísque não equivale à ingestão de um copo de cerveja, já que a segunda tem bem menos álcool do que as primeiras.
Além disso, quanto maior a velocidade de ingestão da bebida, maiores os efeitos. Aqui é importante dizer que o álcool é rapidamente absorvido quando o trato gastrointestinal encontra-se vazio, ou seja, quando a pessoa está em jejum. A presença de alimentos no intestino retarda a absorção alcoólica e os seus efeitos, consequentemente.
Existem também fatores pessoais que fazem os indivíduos “reagirem” diferentemente ao álcool, tais como: gênero, altura, peso, presença de doenças, diferenças no metabolismo, alterações genéticas. Os asiáticos (ou os descendentes, aqui no Brasil), por exemplo, podem herdar uma alteração genética que os fazem mais suscetíveis a apresentar sintomas incômodos da libação alcoólica (rubor facial, dor de cabeça, náuseas).
Outras consequências da intoxicação alcoólica aguda
O indivíduo embriagado coloca a si mesmo e a terceiros em inúmeras situações de risco. São vários os exemplos:
– Envolvimento em brigas e outras formas de violência e possíveis lesões decorrentes (contusões, fraturas, ferimentos por arma branca e de fogo);
– Envolvimento em acidentes de trânsito, com suas potenciais consequências, inclusive a terceiros;
– Comportamento sexual de risco (sexo sem preservativo, sexo com múltiplos parceiros);
– Quedas de alturas elevadas ou da própria altura e possíveis lesões decorrentes (traumatismos, tetra ou paraplegia);
– Manipulação inadequada de equipamentos potencialmente perigosos (maquinário industrial, maquinário agrícola, equipamentos de jardinagem ou mesmo ferramentas de uso comum em residências, como martelos, furadeiras e tesouras) e possíveis lesões decorrentes.
O que é a ressaca?
São sintomas que surgem horas após uma libação alcoólica, assim que o organismo termina de metabolizar todo o álcool ingerido; pode durar 24 horas ou mais. Caracteriza-se por dor de cabeça, irritabilidade, ansiedade, cansaço, tontura, dor no corpo, boca seca, sede, náuseas e vômitos. A intensidade e a duração dos sintomas variam de pessoa a pessoa, contudo, via de regra, quanto mais álcool ingerido, pior a ressaca.
A ressaca nada mais é do que o organismo tentando se recuperar dos efeitos negativos provocados pelo excesso de álcool.
Uma bebida barata pode custar caro
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil perdeu 7,3% do Produto Interno Bruto (PIB) de 2014 em decorrência de problemas relacionados ao álcool, o que equivaleu, à época, a R$ 372 bilhões.
Você já parou para pensar no quanto que o consumo excessivo de álcool gera gastos à saúde pública e ao bolso do indivíduo? Já pensou nos acidentes de trânsito, por exemplo? Quando estes ocorrem, há custo com o deslocamento dos policiais, do serviço de atendimento móvel de urgência (SAMU), dos bombeiros; há custo na internação dos acidentados, nas possíveis cirurgias realizadas, nos leitos hospitalares (muitas vezes de UTI) ocupados, nas medicações dispensadas, no tratamento de reabilitação das lesões (fisioterapia, por exemplo)… alguém poderia questionar que estes gastos ocorrem em qualquer acidente de trânsito, a diferença está no fato de que os acidentes que envolvem embriaguez são 100% preveníveis.
Além disso, o consumo crônico de álcool resulta em várias doenças (melhores discutidas em Por que a venda de bebidas alcoólicas é proibida para menores de 18 anos?, Pancreatite Aguda, Pancreatite Crônica, Já ouviu falar em cirrose hepática?), cada uma com sua fatia de custo ao Sistema Único de Saúde (SUS).
Conclusão
O álcool, apesar de permitido por lei, não é uma substância inócua. Seu consumo exagerado, de forma aguda ou crônica, causa prejuízos notáveis ao indivíduo e à sociedade como um todo. Se for beber, tenha moderação, não dirija, não se coloque em situações de risco, tampouco cause prejuízo a terceiros. A “palavra mágica” aqui é parcimônia.
Autoria: Tayná
Junho/2020
Fontes:
National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA – https://www.niaaa.nih.gov/)
Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA – https://cisa.org.br/)
Livro Medicina Interna de Harrison
Livro Clínica Médica da Universidade de São Paulo, 2a edição
Livro Álcool e suas consequências: uma abordagem multiconceitual
Artigo da Universidade Federal de São Paulo, disponível em: <https://www.unifesp.br/reitoria/dci/publicacoes/entreteses/item/2196-problemas-causados-pelo-consumo-custam-7-3-do-pib>
Imagens disponíveis em:
<https://doctoradriancormillot.com/el-alcohol-puede-danar-irreparable-en-el-cerebro>
<https://wdrfree.com/stock-vector/download/alcoholism-destroys-the-brain-drunk-fight-bottle-of-vodka-184786536>
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